terça-feira, 6 de junho de 2017

DIÁRIO DO ATACAMA


Veja no final desta página link para 
abrir planilhas com roteiro da viagem, distâncias, custos, etc.


Continuação do Diário:

Dia 23 – Dom – Saímos às 6h44min. Chegamos em Foz do Iguaçu, abastecemos e por volta das 12h20min estávamos na Aduana. Levamos somente cerca de 20 min para cruzar a fronteira. Só pediram documento pessoal – mostrei o passaporte, que foi carimbado – e os documentos da moto e CNH. O militar argentino, último homem da Aduana, somente me perguntou se eu estava com a carta verde. Respondi afirmativamente e ele me deixou passar. Em Puerto Iguazu, Argentina, fomos à uma feirinha aonde havia um cambista que trocou pesos argentinos por Real, pagando 4,55 pesos por um real. Daí para a frente pegamos muitos retões até Posadas de Las Misiones. Ficamos no Hotel Costa Azul, logo na entrada da cidade, em frente ao Casino. Saímos para jantar e encontramos um brasileiro, Álvaro, que também estava viajando de moto, sozinho. Estava em uma BMW. Quando ficou sabendo que eu estava de Harley Davidson ele se admirou. Falou que também tem uma HD, mas só para passear com a esposa nos finais de semana e exibir para os amigos. Falei que eu já havia ido à Venezuela com uma HD e ele me perguntou se eu conseguia terminar minhas viagens com a HD. Pensei, pensei e descobri que não: da Venezuela a moto veio rebocada desde Belém-PA. No Rio, no último carnaval, tive que acionar a seguradora, pois a moto apresentou pane na bateria, mesmo 10 dias após a revisão dos 32.000km. E eu ainda não sabia o que viria pela sempre. Mas teria uma grande dor de cabeça com a moto. Pagamos a diária em reais. O homem aceitou o real por cinco pesos argentinos. Como a diária eram 900 pesos, pagamos R$ 180,00 (R$ 90,00 para cada um). Rodamos 1.747km.

Dia 24 – Seg – às 8h10 - Aqui clareia muito tarde, mas também escurece tarde. É o mesmo horário do Brasil. Aliás, o tempo todo, até no Chile, o horário era o mesmo do Brasil. Estranho. Deveria ser outro fuso horário. Pegamos chuva pesada, o que fez a viagem atrasar. As motos ficaram cheias de areia. Paramos para pernoitar em Saenz Peña, a 160km antes do local previsto no planejamento, que seria Pampa de Los Guanacos. Em Saenz Peña o Regimar quis lavar as motos. Eu disse que não adiantaria, pois elas iriam sujar novamente. Mais tarde eu me arrependeria disso. Ficamos no Hotel Oriel – diária 600 pesos argentinos. Aceitou cartão, mas somente Visa. Jantamos uma deliciosa Parrilla na Raíces. Fomos e voltamos de taxi. Bem barato: cerca de 10 pesos cada viagem. Rodamos 2.266km.

Dia 25 – Ter – saímos às 8h10min. Pegamos estradas boas e retões. Apenas um trecho de cerca de 40km, 120km após Pampa de Los Guanacos, com muitos buracos. Não choveu, no que deu para tirarmos o atraso de ontem e chegar em Purmamarca, às 17h55min, penúltima cidade antes da fronteira com o Chile e da travessia pesada dos Andes. Cidade pequena, como são quase todas nessa região do deserto dos Andes. Casas de adobe, parecendo casas dos filmes bíblicos. Mas a cidade estava cheia de turistas. Ficamos na Hospedaje La Reliquia, a 800 pesos a diária, quarto para dois. Aceitou cartão, mas somente o Visa. Saímos para jantar e o Regimar tomou o chá de coca. Eu só provei um pouco do dele. Comi um bife de lhama. Não gostei, pois tinha um molho meio doce. O cantor cantou somente para nós, pois o restaurante estava vazio. Até aí, tínhamos rodado 3.058km.

Dia 26 – Qua – Dia mais difícil!!! Erramos ao sair tarde de Purmamarca (9h10). Deveríamos ter saído assim que clareou, por volta das 7h30. Pior, ainda não tínhamos abastecido as motos e em Purmamarca não tinha abastecimento. Tivemos que rodar, na direção contrária, 26km para abastecer, em um total de 52km. Quando passamos novamente por Purmamarca, já eram 10h10, um pouco tarde para quem ia atravessar os Andes. Chegamos na fronteira com o Chile, Paso de Jama, após as 14h. O nosso azar foi que dois ônibus cheios haviam chegado primeiro que nós. A aduana estava lotada. Para sair da Argentina foi fácil: somente um procedimento. Para entrar no Chile é que foi complicado: seis trâmites! Quer dizer que tivemos que passar por seis guichês e em cada um mostrar documentos de identidade, da moto e carteira de motorista. Carimbavam uma folha de papel que nos deram no início. Depois de tudo, tínhamos que aguardar a revista nas motos. A moça que revistou a minha, pediu que eu abrisse todos os alforjes e enfiou a mão em todos eles. Perguntou se eu estava levando alimentos. Mostrei a ela as castanhas do Pará e de caju. Ela olhou e disse que eu podia levar, sem problemas. Tentei vestir a capa de chuva por cima das três roupas que eu já estava usando: mijão, calça jeans e chaparreira, em baixo; e, pega-louco, camisa de manga comprida e blusão de couro, em cima. Não consegui vestir a capa de chuva, pois me faltava ar devido à altitude: 4.400m. Resolvi ir sem ela mesmo. Eu iria pagar muito caro por essa decisão errada. Eu sofri muito e o Regimar ria o tempo todo. No Paso de Jama tem abastecimento e lanchonete com wi-fi, livre do lado argentino. Quando saímos da aduana já eram quase 15h. Levamos cerca de 1h40 nos trâmites. Ainda paramos para tirar fotos das placas de fronteira Argentina/Chile. Quando entramos no deserto da cordilheira já eram 16h. No deserto, após às 16h, a temperatura cai abruptamente. E foi o que aconteceu. Chegou a 3ºC, com sensação térmica de -11ºC! Minhas mãos congelaram, apesar de eu estar com duas luvas. Eu não conseguia mais apertar a embreagem para mudar a marcha. Aliás, eu nem sabia em que marcha a moto estava. Pior, por mais que eu acelerasse, a moto não passava dos 70 km/h.
Depois, eu fiquei sabendo que a moto também sente a altitude e o frio. Outra coisa muito ruim: o Sol. Estávamos andando em direção ao poente e quando o Sol batia em meus olhos, quase me cegava. Eu procurava me orientar pela faixa lateral da pista, que era a única coisa que eu conseguia enxergar. Quando se entrava na sombra das montanhas, ou quando se saía dela, dava outra sensação terrível de cegueira. Enfim, foram cerca de duas horas nesse sofrimento, que jamais vou esquecer, para atravessar os cerca de 100km do deserto e altitudes variando entre 4.600 e 4.900m. A sorte foi que a rodovia era quase deserta. Outra coisa ruim: o vento, que às vezes dava rajadas fortíssimas, quase nos atirando para fora da estrada. E o pior, foi que o último guarda chileno da aduana nos disse que um brasileiro, também viajando de moto, tinha morrido ontem ali perto, pois sua moto tinha sido lançada para fora da rodovia por uma forte rajada de vento. Depois, bem depois, ficamos sabendo que a coisa não foi bem assim. O brasileiro tinha morrido, sim, mas surgiu outra versão de que ele havia errado em uma das muitas curvas fechadas, com a pista cheia de pedras das montanhas vulcânicas. Enfim, iniciamos a descida, já por volta das 18h. Aí tudo começou a melhorar: voltou a esquentar, parou o vento e o Sol se escondeu por detrás das montanhas. Chegamos a San Pedro de Atacama! Nosso objetivo final! O Regimar foi consultar o GPS e a lista que ele trazia com as propostas de pousadas. Pedimos informações a um grupo de policiais que estava por perto, nos orientamos e fomos ligar as motos. Quando liguei a minha, ouvi um estalo vindo da roda de trás e a moto deu uma pequena rabeada. Falei com o Regimar, mas prosseguimos em direção à pousada. O barulho vindo da moto foi aumentando e as rabeadas também. Paramos as motos, mas não conseguimos ver nada nas rodas traseiras, pois já estava escuro, mas deduzimos que poderia ser rolamento. Chegamos ao Hostal Pablito e decidimos que só iríamos nos preocupar com a moto amanhã, pela manhã. O rapaz que nos recepcionou na pousada, Juan, nos informou que em San Pedro de Atacama não tinha mecânico que entendesse dessas motos grandes. Teríamos que levá-la para Calama-Chile, a cerca de 100km dali. A diária do hostal eram 50.000 pesos chilenos o quarto duplo. O câmbio: conseguimos 170 e 185 pesos chilenos por real. Tem que pesquisar. Saímos para comer. Pedimos uma parrilla chilena, mas não era boa como a argentina. Eu não consegui comer quase nada, só pensando na moto. E se o problema tivesse aparecido no meio do deserto... Não quero nem pensar. Foi um dia para ser esquecido. Foram cinco dias de viagem e eu já havia rodado 3.515km.

Dia 27 – Qui – já pela manhã ficamos sabendo que não podíamos permanecer na Pablito, pois não tinha vaga. A moça da recepção, Maria, muito educada nos ajudou a encontrar outra pousada: Siete Colores. Antes de sair da Pablito, entrei em contato com a seguradora Porto Seguro. Para isso, tive que usar a Suely, minha esposa, por meio do whatsapp, pois, antes da viagem, eu não havia entrado em contato com a Oi para liberar meu telefone para chamadas internacionais. Outro erro meu. A seguradora me informou que eu tinha o direito de transportar minha moto até uma distância de 400km.  Me informaram que iam enviar um reboque do Brasil para fazer isso. Só que o reboque iria levar cerca de seis dias para chegar lá. Muito tempo. Outra opção que me deram foi de fazer o reboque da moto no particular, pedir a nota fiscal e, uma vez de volta ao Brasil, solicitar o reembolso. Foi o que fiz. Nesse aspecto a Maria me ajudou muito. Ela entrou em contato com quem poderia fazer o reboque. Encontrou um que faria por 60.000 pesos chilenos, mas não tinha nota fiscal. Por fim, encontrou um que tinha nota fiscal e faria por 150.000 pesos. Entrei em contato com a seguradora que me autorizou a realizar o reboque. Marquei para o dia seguinte, às 8h. A Maria nos guiou, com o seu carro, até a pousada Siete Colores, aonde pagamos 43.000 mil pesos o quarto duplo. Só que era bem mais simples e longe do centro do que a Pablito. A Maria levou meus alforjes no carro dela e foi bem devagar, pois minha moto não estava confiável. Isso nos tomou toda a manhã. Saímos para o centro da cidade a pé e pagamos 20.000 pesos por um passeio no Valle de La Luna. Iniciou à 15h e terminou às 19h30. Foi bom. Andamos por cavernas, vimos as Três Marias e o pôr do Sol na Piedra Del Coyote. A guia, Carol, nos explicava tudo direitinho. No passeio conhecemos um brasileiro que estava andando de mochila pelo Mundo e nos ensinou aonde tinha um boteco e aonde serviam massas deliciosas, e não muito caras, no centro da cidade. Tomamos uma deliciosa Cristal litrão (R$ 17,00) e comemos uma saborosa macarronada à bolonhesa.

Dia 28 – Sex – exatamente às 8h chegou o reboque. Nem deu tempo de tomar café. Preparei um sanduíche e levei. O motorista, Augusto, solicitou que eu ajudasse a colocar a moto na carroceria. Subi na moto e fui guiando, sendo puxado também pelo cabo de aço. Embarquei com ele na boleia e o Regimar foi nos seguindo, de moto. Chegamos em Calama por volta das 10h. O motorista do reboque, sabendo que eu seria reembolsado pela seguradora, perguntou se eu não queria que ele colocasse 200.000 pesos na Nota Fiscal! Pode isso, Arnaldo¿ Para mim, que sempre admirei o povo chileno, foi uma decepção. Foi constatado que o problema era realmente nos rolamentos traseiros. O fato de eu estar com o manual da moto ajudou os mecânicos. Eles disseram que, provavelmente uma pedra tinha entrado e danificado os rolamentos. Aqui em Goiânia, os mecânicos da Umuarama Harley Davidson, disseram que isso não era para ter acontecido, pois o rolamento é blindado. Enfim, lembrei que o Regimar queria lavar as motos em Saenz Peña e eu o desestimulei. Eu poderia ter morrido no deserto, mas não, apenas paguei cerca de R$ 360,00 pelo conserto. Cerca de 12h30 a moto estava pronta e lavada. O Regimar lavou a dele também. Cobraram R$ 70,00 pela lavada! Decidimos continuar a viagem e fomos para Antofagasta. Estrada boa e pedágio caro. O Regimar pagou os pedágios da ida e eu os da volta. Chegamos pouco depois das 18h, mas ainda bem claro. Abastecemos e fomos para o hotel Spark, que o Regimar já tinha o endereço na Av. Argentina. Muito bom. Pagamos 60.000 pesos o quarto para dois. Tínhamos rodado 3.744km. À noite, saímos para ir até a praia, cerca de 400m de calçada, morro abaixo. Levei uma queda, bati com o rosto no chão, quebrou a armação dos óculos e feri a testa, saindo muito sangue. Voltamos para o hotel. O Regimar me ajudou no curativo. Eu havia levado a pomada Dersani, ótima cicatrizante, gaze e microporo. Voltamos para a praia. Vazia. Jantamos e voltamos pro hotel.

Dia 29 – Sáb – após o café da manhã: o Regi foi à oficina da Suzuki que, por incrível que pareça, era ao lado do nosso hotel. Colocou o pisca dianteiro esquerdo, quebrado na queda da moto na travessia dos Andes e trocou o óleo. O dono da oficina, que é motociclista e inclusive foi a Termas de Rio Hondo, de moto, assistir ao GP de motovelocidade, me falou que Harley Davidson não é para esse tipo de viagem/aventura. A mecânica dela é obsoleta e não reage bem à altitude e baixas temperaturas. Inclusive é arriscado fazer uma travessia dessas em uma Harley Davidson, pois o que queremos é a emoção da aventura e não morrer no deserto, congelado, devido a uma pane na moto. Ele explicou que a Harley Davidson é para viagens nos EUA, pois lá, a cada 150km, tem uma cidade que possui uma loja da Harley que dispõe de todas as peças necessárias: desde o cafezinho, brincou, até o motor, se necessário. Mas aqui não. Bem, ao que tenho a meu favor é que eu estava de posse do Spot Gen3, que envia mensagens de socorro via satélite, pois no deserto dos Andes não tem wi-fi nem sinal de telefonia. São 130km nessa situação. Mas fiquei pensando e decidi: não saio mais do Brasil de Harley Davidson. Depois, passeamos pela cidade, de moto. Trânsito tranqüilo, povo respeitador. Param nas placas de “Pare” e olham para ambos os lados. Asfalto bom. Molhei os pés e as mãos nas águas do Oceano Pacífico. O engraçado é que lá, as motos têm que estacionar de ré, obrigatoriamente. Só que, na placa, estava escrito “solo motos aculatadas”. Não entendendo o que significava “aculatada” – pensei que pudesse ser “autorizada”, com cartão de estacionamento – perguntei a um cidadão que caminhava no calçadão o significado de “aculatada”. Ele bateu na própria bunda e falou que a moto tinha de estar “de culo”, como as nossas estavam. Rimos bastante.

Dia 30 – Dom – saímos às 8h10 e subimos pela orla chilena até Tocopilla, cerca de 200km de Antofagasta. Estrada boa, muitas montanhas desertas e, de vez em quando, avistávamos a praia. O Regimar parou vária vezes para filmar e fotografar. Chegamos relativamente cedo em San Pedro de Atacama, e ficamos novamente no Hostal Pablito, pois o Regimar já havia feito a reserva pelo celular, desde Antofagasta. Voltamos ao boteco, cheio de bandeiras de times de futebol, inclusive várias bandeiras de times brasileiros. Tomamos cerveja Cristal e jantamos o delicioso macarrão à bolonhesa. Isso tudo na rua Caracoles. Acertamos um passeio turístico ao Vale El Tatio, que significa “vovô – ou velhinho – que chora”. A van nos apanhará às 5h da madrugada na pousada! O odômetro marcava: 4.223km.

Dia 1º de Maio – Seg – a van nos pegou exatamente às 5h! Fomos os primeiros. Depois, saiu catando os outros, sem café da manhã. Disseram que não era bom comermos alguma coisa, pois podíamos passar mal devido à altitude: 4.440m; e à temperatura: -8ºC! O café seria servido lá. Chegamos lá antes do amanhecer e deparamos com um cenário nunca visto por nós: local de gêisers, com água quente, de origem vulcânica, muita fumaça no ar e algumas piscinas de água quente. A nossa guia, que por incrível que pareça, era a mesma Carol que nos guiou no Valle de La Luna, nos explicava tudo. Depois dos gêigers, café da manhã e banho na piscina sulfurosa. Entrei e adorei. Dalí, saímos para um povoado próximo aonde comemos churrasco de lhama, bem gostoso e macio, a R$ 15,00, e tiramos foto com uma vicunha, pagando 1.000 pesos pela pose. De lá, voltamos para a cidade, cerca de 70km, mas estava muita coisa fechada, por ser dia do Trabalhador. Encontramos um local que vendia cerveja, compramos e fomos para a pousada. Preparamos tudo para a segunda travessia do deserto dos Andes, o mais árido e alto do Mundo. Lá, chove somente 10mm por ano!

Dia 2 Mai – Ter – saímos da pousada às 8h, abastecemos no centro. Demos sorte: não tinha ninguém no posto. Enquanto abastecíamos chegaram uns cinco carros e entraram na fila, pois o posto é bem pequeno. A gasolina no Chile e Argentina, custa cerca de R$ 4,70! O cruzamento do deserto foi bem mais tranqüilo, bem diferente da vinda. Não estava muito frio e nem tinha tanto vento assim. E o Sol estava nas costas, não mais na cara. Encontramos a aduana vazia e não foi feita a vistoria nas motos. Detalhe: não nos pediram a “carta verde”, para entrar na Argentina, nem o “Soapex”, para entrar no Chile. Embora os tivéssemos. Passamos novamente por Purmamarca, mas não paramos. Seguimos em frente e chegamos cedo, cerca de 16h, em San Salvador de Juyjuy. O trânsito na Argentina é pior que no Chile, mas melhor que no Brasil. Na rodovia, algumas carretas iam para o acostamento, para que pudéssemos ultrapassar. No Chile pegamos rodovias vazias, pois predominava o deserto. Ficamos no Hotel Ohasis, a 1.300 pesos argentinos o quarto duplo, se pagar no dinheiro, pois no cartão seriam 1.600 pesos. Jantamos uma deliciosa parrilla e encontramos vários brasileiros que também estavam viajando de moto. O odômetro marcava: 4,711km.

Dia 3 Mai – Qua – não saímos muito cedo, pois iríamos para Salta, que não era muito longe. Realmente, Salta era perto, mas pegamos a Ruta 9, famosa entre os motociclistas que passam por ali. Eram somente 100km, mas estrada muito estreita – 4m – e mão dupla. Levamos 2h30 para fazer esse pequeno trecho. Os carros que cruzavam pela gente, quase tocavam o retrovisor no nosso. Em alguns trechos estava escrito: “passa somente um veículo”. Muitas, mas muitas curvas mesmo. Marchas, só 1ª e 2ª. Raramente se passava dos 60 km/h. Cheguei a recear pela moto, pois sacrificava muito o equipamento. As mãos doeram muito, de tanto apertar freio e embreagem. Tinha, também, muitos animais na pista: cavalos e vacas, mas não causavam problemas, pois a nossa velocidade era muito baixa. Subindo e descendo morros, no meio da mata, e ainda com ameaça de chuva! Mas o local é até bonito! É a capa do meu álbum! Chegamos cedo – hora do almoço – em Salta. Mas eu estava bem cansado. Os braços, a bunda e a cabeça em pandarecos. Ficamos no Hotel Luxor. Quarto duplo a 1.300 pesos argentinos, com 10% de desconto se pagasse em dinheiro. Eles falam “em efectivo”. Cidade boa e grande. Muita gente nas ruas, como é comum na Argentina. Lá, o comércio fecha às 13h para o almoço e volta a reabrir às 17h! Quando todo mundo sai para as ruas! O odômetro marcava 4.818km!

Dia 4 de Maio – Qui – após o café da manhã, saí para comprar o aro dos óculos que quebraram em Antofagasta. Paguei o mesmo preço que aqui em Goiânia: R$ 330,00! Daí saímos para passear no teleférico. Muito bom. Pagamos 80 pesos. Lá, tomamos vinho de Salta (40 pesos a taça), cerveja Quilmes latão (50 pesos) e tivemos uma excelente vista da cidade e tiramos muitas fotos. À noite, outra parrilla!

Dia 5 Maio – Sex – saímos cedo para Termas de Rio Hondo. Estrada boa. Na Argentina, moto não paga pedágio, mas o local de passagem é bem estreito. Passamos por Tucumán, Em Termas do Rio Hondo ficamos no Hotel Paraíso, pagando 800 pesos argentinos por um quarto duplo, aonde pretendo ficar ano que vem, quando eu voltar lá, de avião, para o GP de motovelocidade. Ele fica na praça, ao lado de um empório, aonde vende tudo, inclusive água e cerveja, e perto de onde se come parrilla deliciosa e comércio bem legal. Lá, comprei camisetas do Valentino Rossi.

Dia 6 Maio – Sáb – troquei o óleo da moto: óleo Motul 20W50, por R$ 30,00 o litro. Pessoal bacana. Dali, visitei o autódromo aonde aconteceu o GP de motovelocidade. Foi bem bacana. Abasteci a moto. Lavei também, por 100 pesos argentinos. À noite: outra parrilla!

Dia 7 Maio – Dom – Saímos às 6h50 de Termas do Rio Hondo. O pessoal do hotel nos preparou o café mais cedo que, na Argentina, são “medialunas”. Sempre! Uma rosca em forma de caranguejo. Estrada boa, mas muito vento. E forte. Chegamos antes das 18h em Corrientes. Ficamos no Astro Apart Hotel. Diária: 990 pesos argentinos o quarto para dois, com café da manhã e garagem. Interessante que, ao chegar aqui, pensei: “o hotel podia ser perto de uma Igreja, pois eu gostaria de assistir a uma Missa na terra e no idioma do Papa”. Quando estacionamos a moto, vi um rapaz lavando uma moto e perguntei aonde vendia água e cerveja e ele me respondeu: “em frente à Igreja, que fica ao lado do hotel”. Ri bastante, mas foi verdade. Ainda peguei a Missa das 19h. Depois, saímos para a parrilla saideira.

Dia 8 Maio – Seg – Saímos às 9h para Foz do Iguaçu. Pegamos muito vento até Posadas. Quase 300km de moto inclinada para a esquerda. Cada carreta que passava sacudia muito a moto. Eu gritava: “seguuuura peão!!!”. Muitos fresos na pista, o que dificultava a pilotagem. Às 17h estávamos na aduana. Passamos muito rápido. Só pediram documento de identidade. Fomos para o Vila Iguaçu Palace Hotel. Cidade deserta, ao contrário das cidades argentinas. Ficamos no hotel. Comemos comida que comprei no supermercado próximo. Muitas subidas! O odômetro marcava 5.993km.

Dia 9 Maio – Ter – saímos às 8h10. Pegamos, inicialmente, 80km de estrada muito boa. Duplicada, pedageada, mas, depois, só estradas ruins: buracos, costelas de vaca, muitas carretas, que não nos respeitavam. Por três vezes eu tive que ir para a pista oposta, pois quando eu tentava ultrapassar, na 3ª faixa, as pouquíssimas que existiam, a carreta com a qual eu estava emparelhado também resolvia ultrapassar, sem me respeitar. Cheguei a reclamar no pedágio falando que aquela ali era uma rodovia da morte! Terrível! Não conseguíamos passsar de 80km rodados em uma hora! E em um Estado rico, pois as plantações, predominantemente de milho, eram a perder de vista. Pensei: “quando chegarmos em São Paulo, Estado rico, as estradas vão melhorar”. Que nada! Continuaram terríveis”. Era a SP 425. Escureceu e não conseguimos chegar em Presidente Prudente. Paramos em Regente Feijó, a cerca de 15km. Ficamos em uma pensão bem simples, pagando R$ 70,00 por um quarto duplo.

Dia 10 Maio – Qua – Partiu Goiânia! Continuamos pegando estradas ruins, com muitas carretas e poucas oportunidades de ultrapassagem. Almoçamos ainda em Minas, no posto Pratão, a 60km de Itumbiara. Nos despedimos ali. Foi cumprido o programado. Parabéns ao Regimar, que programou tudo, detalhadamente e liderou com seu GPS, toda a viagem/aventura. E eu, com quase 65 anos, consegui acompanhá-lo. O Regimar foi para a casa dos pais dele eu segui para Goiânia. Somente quando passei por Itumbiara que fiquei tranqüilo na estrada. Deus me livre daquelas estradas do Paraná e de São Paulo!

Algumas observações: Abastecimento: somente os postos YPF (argentina) e Shell aceitaram pagamento no cartão de crédito. Os demais, só em dinheiro. Levei um galão de 10 litros que foi bem útil, pois minha moto só pega 17 litros, e nas altitudes o consumo aumenta. O Regimar não teve problemas de abastecimento com a dele.
  
Goiânia, 27 de maio de 2017. 

Luiz Afonso Gomes de Sousa


quarta-feira, 8 de julho de 2015

terça-feira, 7 de julho de 2015

ON/OFF ROAD: ALTO PARAÍSO-GO (20 e 21/6/2015)

Partimos de Brasília por volta de 8 horas da manhã com o desejo de que por volta das 15 horas chegaríamos à cidade de Alto Paraíso – G0. Chegamos depois das 15! Chegamos às 18 hs e alguns minutos. Segundo o Luiz, a previsão estava correta: “ Afinal 18 é depois de 15 horas”. Alívio, pois o sol somente esperou que nossas motos tocassem o asfalto da cidade para deixar de nos guiar pela sua claridade
    Ao entramos no acesso para a cidade de Formosa deixamos a BR 040. Paramos em um posto de combustível para abastecer e para  providenciar uma reserva de gasolina, pois não sabíamos se até a cidade de Alto paraíso encontraríamos outro ponto de abastecimento (adquirimos 5 litros extras de gasolina).
    Depois de Formosa seguimos em sentido ao Salto do Itiquira. 
A manhã fresca nos convidava a olhar os contornos de pontas abaloadas e os altos paredões que dão forma a serra que iríamos margear até Alto Paraíso. Na entrada que dá acesso ao Salto deixamos o asfalto e iniciamos o périplo pela estrada de terra.
    No primeiro terço da viagem a estrada é relativamente favorável a uma velocidade de aproximadamente 60 km por hora. A pista tem o solo firme, em que pese as constantes “costelas de vaca”.
    Não foi necessário rodar por muito tempo para que fôssemos obrigados a parar e perceber que o combustível que levávamos como reserva estava se perdendo. Os solavancos e a contínua fricção do galão de combustível sobre o bagageiro de minha moto acabou por furar o vasilhame que transportava nossa reserva.  Ágil, o Lenilson saltou de pronto de sua Yamaha (Tenere 250cc) e evitou que perdêssemos todo o combustível. O que havia sobrado da gasolina foi dividido entre a minha moto (NX 150 cc ano 1989) e a moto do Luiz ( XL 500 S ano 1980, uma legítima japonesa!).   
    A constante atenção ao terreno não permitia que nos entregássemos aos devaneios que as paisagens invariavelmente provocam. Constantemente éramos surpreendidos por trechos arenosos os quais nos obrigavam a exercitar o equilíbrio sobre as motos. O Regimar, que seguia à frente, na sua Yamaha Crosser 150 cc, estava sempre atento em nos avisar, pelo intercomunicador, sobre as dificuldades e os perigos colocados à nossa frente. Encontrávamos no percurso trechos ora com pedras,  ora buracos, areia fofa e muitos desníveis na estrada.
    Passamos por diversos botecos de beira de estradas. Em um deles paramos para que Luiz e Regimar se refrescassem com uma cerveja e nos servíssemos com biscoito de queijo e bolacha
Nessas oportunidades era comum provocar  conversas amenas e divertidas com moradores da região . Ademais, essas interrupções eram oportunas para discutirmos e avaliarmos nosso trajeto à frente, observar se nossas bagagens estavam seguras, verificar se não havia alguma avaria nas nossas motos, esticar nossas pernas e também para rirmos de algum apuro deixado para trás.
    Na localidade chamada Caixa, um povoado formado por assentados, encontramos gasolina a R$ 4,50 o litro. Somente Luiz e eu abastecemos. As motos do Regimar e Lenilson, além de possuírem a capacidade de armazenamento maior de combustível, são modernas e mais econômicas. Nessa localidade as informações sobre o caminho que deveríamos seguir eram controversas e diversificadas. Nossos interlocutores disputavam entre si a primazia e a gentileza de nos fornecer informações sobre o caminho que deveríamos tomar. Ao partirmos de Caixa tínhamos mais dúvidas do que esclarecimento sobre qual direção deveríamos prosseguir. A propósito, o nome do povoado é a obviedade: existe na localidade uma caixa d’água que se destaca, em altura, das pequenas árvores retorcidas do serrado.
    Por pouco não é acrescido no nosso currículo o atropelamento de um galo! Ao passar por uma casa o danado que comia sossegado e absoluto, protegido e protegendo seu harém de galinhas, foi surpreendido pelo barulho de nossas motocicletas. O bípede, com penas azuladas e douradas, portador de uma exuberante crista vermelha, assustou com a zoeira invasiva de seu território e saiu em disparada em direção a estrada. A roda dianteira de minha moto rastelou as penas do rabo do galo que espertamente, com um misto de salto e vôo desengonçado, se livrou do pior e evitou sua passagem desta para outra vida! (ou para a panela!). Se o meu coração veio até a boca, imagino que o coração do galo deve ter ido até o seu bico. Pura sorte:  o galo não foi temperado e eu me livrei de muitos arranhões!
    Por três vezes fomos obrigados a atravessar cursos de águas correntes. No rio Macacão, enquanto avaliávamos o risco de atravessá-lo, o Luiz e sua ousada XL 500, tomou a frente, peitou a correnteza e alcançou a outra margem. Regimar, Lenilson e eu ficamos observando um regional atravessar o rio, numa Honda CG 125, pra que tivéssemos sinalização do melhor trajeto a seguir. Acontece que infelizmente a moto, o motociclista e o saco de farinha que ele carregava foram pra água! Restou-nos traçar cada qual seu próprio trajeto, rodar sobre as pedras do leito do rio e alcançar a outra margem do Macacão.
    Com o inicio do inverno muitos riachos se encontram sem água. A secura provocada pela falta de chuvas faz com que a estrada se torne, em muitos trechos, encoberta por um pó fino que encobre tudo que é inferior a 20 centímetros (ou mais!). Sob a poeira assentada escondem-se buracos e muitas pedras soltas. Em dois destes trechos o Lenilson não conseguiu dominar sua Tenere e viu-se obrigado a saltar da sua moto para que não se machucasse. Em meio a essas dificuldades deparamos com uma boiada de aproximadamente 200 cabeças. Ao abrir caminho para passar entre os animais o gado assustado iniciou uma correria paralela a nós. Temi que algum animal se jogasse contra as nossas motocicletas.
    No ultimo terço da viagem, o sol já sinalizava que estava prestes a nos deixar. Este talvez fosse o trecho que mais nos incomodou e o que mais ofereceu risco a nossa segurança. O lusco fusco do final de tarde refletindo nas viseiras empoeiradas, a grande quantidade de poeira que pairava no ar e a travessia da serra com ininterruptas curvas, diversas descidas abruptas e subidas íngremes exigia mais atenção, mais força e mais sorte. Era impossível enxergar a uma distância de 10 metros à frente!
     Depois 120 km por asfalto e mais 220 km pela terra (*), finalmente entramos em Alto Paraíso, pela parte que se encontra incrustada no sopé da serra. Estávamos amarronzados de poeira! As luzes dos postes e a luzes das casas nos guiaram até a praça onde estavam instalados alguns artesãos Ao pararmos para pedir informações sobre a pousada que nos hospedaria, fomos surpreendidos pelo Galvão e o Vilson,  que nos saudaram efusivamente pela nossa chegada. O encontro com os outros companheiros (Humberto e Pedrão) despertou risos, abraços, e felicitações. Mas o que mais me comoveu foi a  demonstração de companheirismo e amizade ao exprimirem seus sentimentos de preocupação por havermos chegados tão tarde. Ou talvez me tenha comovido por associar com a preocupação que os pais possuem para com seus filhos, quando eles nos privam de notícias.   
    À noite, fomos sentar junto a uma mesa grande o suficiente que acomodar todos (Vilson, Galvão, Humberto, Pedro, Regimar, Lenilson, Luiz e eu). A iluminação tênue da lanchonete e a vela acesa sobre a mesa não combinavam com o fulgor das gargalhadas ao comemorarmos nossas aventuras já vividas. Comemos pastéis e carne na chapa com mandioca. Nesse ambiente, as nossas histórias se equilibravam sobre os copos de cervejas virados. Nos intervalos que sempre se faz depois de uma saraivada de gargalhadas, o Pedrão, revestido de  seriedade terna e quase sussurrante, exclamava: “veja como é importante a amizade!”.
Quando deixamos a lanchonete a noite já se fazia fria. Ao caminharmos para a pousada Rubi Violeta, onde dormiríamos, nossas risadas e conversas em alta voz licenciava para que as janelas das casas se fechassem as nossas costas, e  o ladrar vigilante dos cachorros se antecipasse à nossa passagem. Alguém olhou para o céu e chamou a atenção para a miríade de estrelas que se encontravam libertas da luminosidade das cidades grandes. Andamos mais alguns passos e alguém teve a ideia de assoviar para que nossas motocicletas viessem ao nosso encontro.

* O retorno foi inteiramente por asfalto, num percurso de 238 km.
Escrito por Wellington Figueiredo




 







E/D: Humberto e Pedrão.

 Pedrão na paquera. 
Ops, o chão tremeu (é que tinha uma Harley em marcha lenta)

segunda-feira, 18 de maio de 2015

VIAGEM A BELÉM E FRONTEIRAS BRASIL/GUIANA E BRASIL/VENEZUELA - 2ª PARTE

Clique nas imagens para ver em tamanho original

 Da esquerda para dir: Wellington, Regimar e Afonso.


Brava HD, atingindo 60.000 km de saúde e alegria... 


Travessia do Rio Moju, no Pará. Ao fundo, Ponte Caída. 










Afonso fazendo novas amizades. 

Rebeca, 5 anos. Nova amiga dos Comdor'es.


Hotel Concha do Mar - Praia de Atalaia - Salinópolis  - PA

Praia de Atalaia, em Salinópolis - PA








Duna de Atalaia, em Salinópolis - PA

terça-feira, 5 de maio de 2015

BELÉM E FRONTEIRAS BRASIL/GUIANA E BRASIL/VENEZUELA - 1ª PARTE

Viagem iniciada em 1/5/2015

Clique nas imagens para ver em tamanho original.

Palmas, Tocantins.


Ilha da Canela, Rio Tocantins. 


Vida difícil, né Regimar?

 Afonso, no Complexo Turístico Pedra Caída

Da esquerda para a direita: Afonso, Regimar e Wellington
De Filadelfia (TO) para Carolina (MA), travessia de balsa pelo Rio Tocantins.



Ilha da Canela, no Rio Tocantins


Em Carolina (MA), Wellington e Regimar conhecem uma figura curiosa: Pedrão. 
Muita cachaça na mão e a cobrança de uma tarifa inflexível para se deixar fotografar...



Cachoeira do Santuário, Complexo Turístico Pedra Caída - Carolina (MA)