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Continuação do Diário:
Dia 23 – Dom – Saímos às 6h44min. Chegamos em Foz do Iguaçu, abastecemos e por volta das 12h20min estávamos na Aduana. Levamos somente cerca de 20 min para cruzar a fronteira. Só pediram documento pessoal – mostrei o passaporte, que foi carimbado – e os documentos da moto e CNH. O militar argentino, último homem da Aduana, somente me perguntou se eu estava com a carta verde. Respondi afirmativamente e ele me deixou passar. Em Puerto Iguazu, Argentina, fomos à uma feirinha aonde havia um cambista que trocou pesos argentinos por Real, pagando 4,55 pesos por um real. Daí para a frente pegamos muitos retões até Posadas de Las Misiones. Ficamos no Hotel Costa Azul, logo na entrada da cidade, em frente ao Casino. Saímos para jantar e encontramos um brasileiro, Álvaro, que também estava viajando de moto, sozinho. Estava em uma BMW. Quando ficou sabendo que eu estava de Harley Davidson ele se admirou. Falou que também tem uma HD, mas só para passear com a esposa nos finais de semana e exibir para os amigos. Falei que eu já havia ido à Venezuela com uma HD e ele me perguntou se eu conseguia terminar minhas viagens com a HD. Pensei, pensei e descobri que não: da Venezuela a moto veio rebocada desde Belém-PA. No Rio, no último carnaval, tive que acionar a seguradora, pois a moto apresentou pane na bateria, mesmo 10 dias após a revisão dos 32.000km. E eu ainda não sabia o que viria pela sempre. Mas teria uma grande dor de cabeça com a moto. Pagamos a diária em reais. O homem aceitou o real por cinco pesos argentinos. Como a diária eram 900 pesos, pagamos R$ 180,00 (R$ 90,00 para cada um). Rodamos 1.747km.
Dia 24
– Seg – às 8h10 - Aqui clareia muito tarde, mas também escurece
tarde. É o mesmo horário do Brasil. Aliás, o tempo todo, até no Chile, o
horário era o mesmo do Brasil. Estranho. Deveria ser outro fuso horário.
Pegamos chuva pesada, o que fez a viagem atrasar. As motos ficaram cheias de
areia. Paramos para pernoitar em Saenz Peña, a 160km antes do local previsto no
planejamento, que seria Pampa de Los Guanacos. Em Saenz Peña o Regimar quis
lavar as motos. Eu disse que não adiantaria, pois elas iriam sujar novamente.
Mais tarde eu me arrependeria disso. Ficamos no Hotel Oriel – diária 600 pesos
argentinos. Aceitou cartão, mas somente Visa. Jantamos uma deliciosa Parrilla na
Raíces. Fomos e voltamos de taxi. Bem barato: cerca de 10 pesos cada viagem.
Rodamos 2.266km.
Dia 25
– Ter – saímos às 8h10min. Pegamos estradas boas e retões. Apenas um trecho de
cerca de 40km, 120km após Pampa de Los Guanacos, com muitos buracos. Não choveu,
no que deu para tirarmos o atraso de ontem e chegar em Purmamarca, às 17h55min,
penúltima cidade antes da fronteira com o Chile e da travessia pesada dos
Andes. Cidade pequena, como são quase todas nessa região do deserto dos Andes.
Casas de adobe, parecendo casas dos filmes bíblicos. Mas a cidade estava cheia
de turistas. Ficamos na Hospedaje La Reliquia, a 800 pesos a diária, quarto
para dois. Aceitou cartão, mas somente o Visa. Saímos para jantar e o Regimar
tomou o chá de coca. Eu só provei um pouco do dele. Comi um bife de lhama. Não
gostei, pois tinha um molho meio doce. O cantor cantou somente para nós, pois o
restaurante estava vazio. Até aí, tínhamos rodado 3.058km.
Dia 26
– Qua – Dia mais difícil!!! Erramos ao sair tarde de Purmamarca (9h10).
Deveríamos ter saído assim que clareou, por volta das 7h30. Pior, ainda não
tínhamos abastecido as motos e em Purmamarca não tinha abastecimento. Tivemos
que rodar, na direção contrária, 26km para abastecer, em um total de 52km.
Quando passamos novamente por Purmamarca, já eram 10h10, um pouco tarde para
quem ia atravessar os Andes. Chegamos na fronteira com o Chile, Paso de Jama,
após as 14h. O nosso azar foi que dois ônibus cheios haviam chegado primeiro
que nós. A aduana estava lotada. Para sair da Argentina foi fácil: somente um
procedimento. Para entrar no Chile é que foi complicado: seis trâmites! Quer
dizer que tivemos que passar por seis guichês e em cada um mostrar documentos
de identidade, da moto e carteira de motorista. Carimbavam uma folha de papel
que nos deram no início. Depois de tudo, tínhamos que aguardar a revista nas
motos. A moça que revistou a minha, pediu que eu abrisse todos os alforjes e
enfiou a mão em todos eles. Perguntou se eu estava levando alimentos. Mostrei a
ela as castanhas do Pará e de caju. Ela olhou e disse que eu podia levar, sem
problemas. Tentei vestir a capa de chuva por cima das três roupas que eu já
estava usando: mijão, calça jeans e chaparreira, em baixo; e, pega-louco,
camisa de manga comprida e blusão de couro, em cima. Não consegui vestir a capa
de chuva, pois me faltava ar devido à altitude: 4.400m. Resolvi ir sem ela
mesmo. Eu iria pagar muito caro por essa decisão errada. Eu sofri muito e o
Regimar ria o tempo todo. No Paso de Jama tem abastecimento e lanchonete com wi-fi,
livre do lado argentino. Quando saímos da aduana já eram quase 15h. Levamos
cerca de 1h40 nos trâmites. Ainda paramos para tirar fotos das placas de
fronteira Argentina/Chile. Quando entramos no deserto da cordilheira já eram
16h. No deserto, após às 16h, a temperatura cai abruptamente. E foi o que
aconteceu. Chegou a 3ºC, com sensação térmica de -11ºC! Minhas mãos congelaram,
apesar de eu estar com duas luvas. Eu não conseguia mais apertar a embreagem
para mudar a marcha. Aliás, eu nem sabia em que marcha a moto estava. Pior, por
mais que eu acelerasse, a moto não passava dos 70 km/h.
Depois,
eu fiquei sabendo que a moto também sente a altitude e o frio. Outra coisa
muito ruim: o Sol. Estávamos andando em direção ao poente e quando o Sol batia
em meus olhos, quase me cegava. Eu procurava me orientar pela faixa lateral da
pista, que era a única coisa que eu conseguia enxergar. Quando se entrava na
sombra das montanhas, ou quando se saía dela, dava outra sensação terrível de
cegueira. Enfim, foram cerca de duas horas nesse sofrimento, que jamais vou
esquecer, para atravessar os cerca de 100km do deserto e altitudes variando
entre 4.600 e 4.900m. A sorte foi que a rodovia era quase deserta. Outra coisa
ruim: o vento, que às vezes dava rajadas fortíssimas, quase nos atirando para
fora da estrada. E o pior, foi que o último guarda chileno da aduana nos disse
que um brasileiro, também viajando de moto, tinha morrido ontem ali perto, pois
sua moto tinha sido lançada para fora da rodovia por uma forte rajada de vento.
Depois, bem depois, ficamos sabendo que a coisa não foi bem assim. O brasileiro
tinha morrido, sim, mas surgiu outra versão de que ele havia errado em uma das
muitas curvas fechadas, com a pista cheia de pedras das montanhas vulcânicas.
Enfim, iniciamos a descida, já por volta das 18h. Aí tudo começou a melhorar:
voltou a esquentar, parou o vento e o Sol se escondeu por detrás das montanhas.
Chegamos a San Pedro de Atacama! Nosso objetivo final! O Regimar foi consultar
o GPS e a lista que ele trazia com as propostas de pousadas. Pedimos
informações a um grupo de policiais que estava por perto, nos orientamos e
fomos ligar as motos. Quando liguei a minha, ouvi um estalo vindo da roda de
trás e a moto deu uma pequena rabeada. Falei com o Regimar, mas prosseguimos em
direção à pousada. O barulho vindo da moto foi aumentando e as rabeadas também.
Paramos as motos, mas não conseguimos ver nada nas rodas traseiras, pois já
estava escuro, mas deduzimos que poderia ser rolamento. Chegamos ao Hostal
Pablito e decidimos que só iríamos nos preocupar com a moto amanhã, pela manhã.
O rapaz que nos recepcionou na pousada, Juan, nos informou que em San Pedro de
Atacama não tinha mecânico que entendesse dessas motos grandes. Teríamos que
levá-la para Calama-Chile, a cerca de 100km dali. A diária do hostal eram
50.000 pesos chilenos o quarto duplo. O câmbio: conseguimos 170 e 185 pesos
chilenos por real. Tem que pesquisar. Saímos para comer. Pedimos uma parrilla
chilena, mas não era boa como a argentina. Eu não consegui comer quase nada, só
pensando na moto. E se o problema tivesse aparecido no meio do deserto... Não
quero nem pensar. Foi um dia para ser esquecido. Foram cinco dias de viagem e
eu já havia rodado 3.515km.
Dia 27
– Qui – já pela manhã ficamos sabendo que não podíamos permanecer na Pablito,
pois não tinha vaga. A moça da recepção, Maria, muito educada nos ajudou a
encontrar outra pousada: Siete Colores. Antes de sair da Pablito, entrei em
contato com a seguradora Porto Seguro. Para isso, tive que usar a Suely, minha
esposa, por meio do whatsapp, pois, antes da viagem, eu não havia entrado em
contato com a Oi para liberar meu telefone para chamadas internacionais. Outro
erro meu. A seguradora me informou que eu tinha o direito de transportar minha
moto até uma distância de 400km. Me
informaram que iam enviar um reboque do Brasil para fazer isso. Só que o
reboque iria levar cerca de seis dias para chegar lá. Muito tempo. Outra opção
que me deram foi de fazer o reboque da moto no particular, pedir a nota fiscal
e, uma vez de volta ao Brasil, solicitar o reembolso. Foi o que fiz. Nesse
aspecto a Maria me ajudou muito. Ela entrou em contato com quem poderia fazer o
reboque. Encontrou um que faria por 60.000 pesos chilenos, mas não tinha nota
fiscal. Por fim, encontrou um que tinha nota fiscal e faria por 150.000 pesos.
Entrei em contato com a seguradora que me autorizou a realizar o reboque.
Marquei para o dia seguinte, às 8h. A Maria nos guiou, com o seu carro, até a pousada
Siete Colores, aonde pagamos 43.000 mil pesos o quarto duplo. Só que era bem
mais simples e longe do centro do que a Pablito. A Maria levou meus alforjes no
carro dela e foi bem devagar, pois minha moto não estava confiável. Isso nos
tomou toda a manhã. Saímos para o centro da cidade a pé e pagamos 20.000 pesos
por um passeio no Valle de La Luna. Iniciou à 15h e terminou às 19h30. Foi bom.
Andamos por cavernas, vimos as Três Marias e o pôr do Sol na Piedra Del Coyote.
A guia, Carol, nos explicava tudo direitinho. No passeio conhecemos um
brasileiro que estava andando de mochila pelo Mundo e nos ensinou aonde tinha
um boteco e aonde serviam massas deliciosas, e não muito caras, no centro da
cidade. Tomamos uma deliciosa Cristal litrão (R$ 17,00) e comemos uma saborosa
macarronada à bolonhesa.
Dia 28
– Sex – exatamente às 8h chegou o reboque. Nem deu tempo de tomar café.
Preparei um sanduíche e levei. O motorista, Augusto, solicitou que eu ajudasse
a colocar a moto na carroceria. Subi na moto e fui guiando, sendo puxado também
pelo cabo de aço. Embarquei com ele na boleia e o Regimar foi nos seguindo, de
moto. Chegamos em Calama por volta das 10h. O motorista do reboque, sabendo que
eu seria reembolsado pela seguradora, perguntou se eu não queria que ele colocasse
200.000 pesos na Nota Fiscal! Pode isso, Arnaldo¿ Para mim, que sempre admirei
o povo chileno, foi uma decepção. Foi constatado que o problema era realmente
nos rolamentos traseiros. O fato de eu estar com o manual da moto ajudou os
mecânicos. Eles disseram que, provavelmente uma pedra tinha entrado e
danificado os rolamentos. Aqui em Goiânia, os mecânicos da Umuarama Harley
Davidson, disseram que isso não era para ter acontecido, pois o rolamento é
blindado. Enfim, lembrei que o Regimar queria lavar as motos em Saenz Peña e eu
o desestimulei. Eu poderia ter morrido no deserto, mas não, apenas paguei cerca
de R$ 360,00 pelo conserto. Cerca de 12h30 a moto estava pronta e lavada. O
Regimar lavou a dele também. Cobraram R$ 70,00 pela lavada! Decidimos continuar
a viagem e fomos para Antofagasta. Estrada boa e pedágio caro. O Regimar pagou
os pedágios da ida e eu os da volta. Chegamos pouco depois das 18h, mas ainda
bem claro. Abastecemos e fomos para o hotel Spark, que o Regimar já tinha o
endereço na Av. Argentina. Muito bom. Pagamos 60.000 pesos o quarto para dois.
Tínhamos rodado 3.744km. À noite, saímos para ir até a praia, cerca de 400m de
calçada, morro abaixo. Levei uma queda, bati com o rosto no chão, quebrou a
armação dos óculos e feri a testa, saindo muito sangue. Voltamos para o hotel.
O Regimar me ajudou no curativo. Eu havia levado a pomada Dersani, ótima
cicatrizante, gaze e microporo. Voltamos para a praia. Vazia. Jantamos e
voltamos pro hotel.
Dia 29
– Sáb – após o café da manhã: o Regi foi à oficina da Suzuki que, por incrível
que pareça, era ao lado do nosso hotel. Colocou o pisca dianteiro esquerdo,
quebrado na queda da moto na travessia dos Andes e trocou o óleo. O dono da
oficina, que é motociclista e inclusive foi a Termas de Rio Hondo, de moto,
assistir ao GP de motovelocidade, me falou que Harley Davidson não é para esse
tipo de viagem/aventura. A mecânica dela é obsoleta e não reage bem à altitude
e baixas temperaturas. Inclusive é arriscado fazer uma travessia dessas em uma
Harley Davidson, pois o que queremos é a emoção da aventura e não morrer no
deserto, congelado, devido a uma pane na moto. Ele explicou que a Harley
Davidson é para viagens nos EUA, pois lá, a cada 150km, tem uma cidade que
possui uma loja da Harley que dispõe de todas as peças necessárias: desde o
cafezinho, brincou, até o motor, se necessário. Mas aqui não. Bem, ao que tenho
a meu favor é que eu estava de posse do Spot Gen3, que envia mensagens de
socorro via satélite, pois no deserto dos Andes não tem wi-fi nem sinal de telefonia.
São 130km nessa situação. Mas fiquei pensando e decidi: não saio mais do Brasil
de Harley Davidson. Depois, passeamos pela cidade, de moto. Trânsito tranqüilo,
povo respeitador. Param nas placas de “Pare” e olham para ambos os lados. Asfalto
bom. Molhei os pés e as mãos nas águas do Oceano Pacífico. O engraçado é que
lá, as motos têm que estacionar de ré, obrigatoriamente. Só que, na placa,
estava escrito “solo motos aculatadas”. Não entendendo o que significava
“aculatada” – pensei que pudesse ser “autorizada”, com cartão de estacionamento
– perguntei a um cidadão que caminhava no calçadão o significado de
“aculatada”. Ele bateu na própria bunda e falou que a moto tinha de estar “de
culo”, como as nossas estavam. Rimos bastante.
Dia 30
– Dom – saímos às 8h10 e subimos pela orla chilena até Tocopilla, cerca de 200km
de Antofagasta. Estrada boa, muitas montanhas desertas e, de vez em quando,
avistávamos a praia. O Regimar parou vária vezes para filmar e fotografar. Chegamos
relativamente cedo em San Pedro de Atacama, e ficamos novamente no Hostal
Pablito, pois o Regimar já havia feito a reserva pelo celular, desde
Antofagasta. Voltamos ao boteco, cheio de bandeiras de times de futebol,
inclusive várias bandeiras de times brasileiros. Tomamos cerveja Cristal e
jantamos o delicioso macarrão à bolonhesa. Isso tudo na rua Caracoles. Acertamos
um passeio turístico ao Vale El Tatio, que significa “vovô – ou velhinho – que
chora”. A van nos apanhará às 5h da madrugada na pousada! O odômetro marcava:
4.223km.
Dia 1º
de Maio – Seg – a van nos pegou exatamente às 5h! Fomos os primeiros. Depois,
saiu catando os outros, sem café da manhã. Disseram que não era bom comermos
alguma coisa, pois podíamos passar mal devido à altitude: 4.440m; e à
temperatura: -8ºC! O café seria servido lá. Chegamos lá antes do amanhecer e
deparamos com um cenário nunca visto por nós: local de gêisers, com água
quente, de origem vulcânica, muita fumaça no ar e algumas piscinas de água
quente. A nossa guia, que por incrível que pareça, era a mesma Carol que nos
guiou no Valle de La Luna, nos explicava tudo. Depois dos gêigers, café da
manhã e banho na piscina sulfurosa. Entrei e adorei. Dalí, saímos para um
povoado próximo aonde comemos churrasco de lhama, bem gostoso e macio, a R$
15,00, e tiramos foto com uma vicunha, pagando 1.000 pesos pela pose. De lá,
voltamos para a cidade, cerca de 70km, mas estava muita coisa fechada, por ser
dia do Trabalhador. Encontramos um local que vendia cerveja, compramos e fomos
para a pousada. Preparamos tudo para a segunda travessia do deserto dos Andes,
o mais árido e alto do Mundo. Lá, chove somente 10mm por ano!
Dia 2 Mai
– Ter – saímos da pousada às 8h, abastecemos no centro. Demos sorte: não tinha
ninguém no posto. Enquanto abastecíamos chegaram uns cinco carros e entraram na
fila, pois o posto é bem pequeno. A gasolina no Chile e Argentina, custa cerca
de R$ 4,70! O cruzamento do deserto foi bem mais tranqüilo, bem diferente da
vinda. Não estava muito frio e nem tinha tanto vento assim. E o Sol estava nas
costas, não mais na cara. Encontramos a aduana vazia e não foi feita a vistoria
nas motos. Detalhe: não nos pediram a “carta verde”, para entrar na Argentina,
nem o “Soapex”, para entrar no Chile. Embora os tivéssemos. Passamos novamente
por Purmamarca, mas não paramos. Seguimos em frente e chegamos cedo, cerca de
16h, em San Salvador de Juyjuy. O trânsito na Argentina é pior que no Chile,
mas melhor que no Brasil. Na rodovia, algumas carretas iam para o acostamento,
para que pudéssemos ultrapassar. No Chile pegamos rodovias vazias, pois
predominava o deserto. Ficamos no Hotel Ohasis, a 1.300 pesos argentinos o
quarto duplo, se pagar no dinheiro, pois no cartão seriam 1.600 pesos. Jantamos
uma deliciosa parrilla e encontramos vários brasileiros que também estavam
viajando de moto. O odômetro marcava: 4,711km.
Dia 3
Mai – Qua – não saímos muito cedo, pois iríamos para Salta, que não era muito
longe. Realmente, Salta era perto, mas pegamos a Ruta 9, famosa entre os
motociclistas que passam por ali. Eram somente 100km, mas estrada muito
estreita – 4m – e mão dupla. Levamos 2h30 para fazer esse pequeno trecho. Os
carros que cruzavam pela gente, quase tocavam o retrovisor no nosso. Em alguns
trechos estava escrito: “passa somente um veículo”. Muitas, mas muitas curvas
mesmo. Marchas, só 1ª e 2ª. Raramente se passava dos 60 km/h. Cheguei a recear
pela moto, pois sacrificava muito o equipamento. As mãos doeram muito, de tanto
apertar freio e embreagem. Tinha, também, muitos animais na pista: cavalos e vacas,
mas não causavam problemas, pois a nossa velocidade era muito baixa. Subindo e
descendo morros, no meio da mata, e ainda com ameaça de chuva! Mas o local é
até bonito! É a capa do meu álbum! Chegamos cedo – hora do almoço – em Salta.
Mas eu estava bem cansado. Os braços, a bunda e a cabeça em pandarecos. Ficamos
no Hotel Luxor. Quarto duplo a 1.300 pesos argentinos, com 10% de desconto se
pagasse em dinheiro. Eles falam “em efectivo”. Cidade boa e grande. Muita gente
nas ruas, como é comum na Argentina. Lá, o comércio fecha às 13h para o almoço
e volta a reabrir às 17h! Quando todo mundo sai para as ruas! O odômetro marcava
4.818km!
Dia 4
de Maio – Qui – após o café da manhã, saí para comprar o aro dos óculos que
quebraram em Antofagasta. Paguei o mesmo preço que aqui em Goiânia: R$ 330,00!
Daí saímos para passear no teleférico. Muito bom. Pagamos 80 pesos. Lá, tomamos
vinho de Salta (40 pesos a taça), cerveja Quilmes latão (50 pesos) e tivemos
uma excelente vista da cidade e tiramos muitas fotos. À noite, outra parrilla!
Dia 5
Maio – Sex – saímos cedo para Termas de Rio Hondo. Estrada boa. Na Argentina,
moto não paga pedágio, mas o local de passagem é bem estreito. Passamos por
Tucumán, Em Termas do Rio Hondo ficamos no Hotel Paraíso, pagando 800 pesos
argentinos por um quarto duplo, aonde pretendo ficar ano que vem, quando eu
voltar lá, de avião, para o GP de motovelocidade. Ele fica na praça, ao lado de
um empório, aonde vende tudo, inclusive água e cerveja, e perto de onde se come
parrilla deliciosa e comércio bem legal. Lá, comprei camisetas do Valentino
Rossi.
Dia 6
Maio – Sáb – troquei o óleo da moto: óleo Motul 20W50, por R$ 30,00 o litro.
Pessoal bacana. Dali, visitei o autódromo aonde aconteceu o GP de
motovelocidade. Foi bem bacana. Abasteci a moto. Lavei também, por 100 pesos
argentinos. À noite: outra parrilla!
Dia 7
Maio – Dom – Saímos às 6h50 de Termas do Rio Hondo. O pessoal do hotel nos
preparou o café mais cedo que, na Argentina, são “medialunas”. Sempre! Uma
rosca em forma de caranguejo. Estrada boa, mas muito vento. E forte. Chegamos
antes das 18h em Corrientes. Ficamos no Astro Apart Hotel. Diária: 990 pesos
argentinos o quarto para dois, com café da manhã e garagem. Interessante que,
ao chegar aqui, pensei: “o hotel podia ser perto de uma Igreja, pois eu
gostaria de assistir a uma Missa na terra e no idioma do Papa”. Quando
estacionamos a moto, vi um rapaz lavando uma moto e perguntei aonde vendia água
e cerveja e ele me respondeu: “em frente à Igreja, que fica ao lado do hotel”.
Ri bastante, mas foi verdade. Ainda peguei a Missa das 19h. Depois, saímos para
a parrilla saideira.
Dia 8
Maio – Seg – Saímos às 9h para Foz do Iguaçu. Pegamos muito vento até Posadas.
Quase 300km de moto inclinada para a esquerda. Cada carreta que passava sacudia
muito a moto. Eu gritava: “seguuuura peão!!!”. Muitos fresos na pista, o que
dificultava a pilotagem. Às 17h estávamos na aduana. Passamos muito rápido. Só
pediram documento de identidade. Fomos para o Vila Iguaçu Palace Hotel. Cidade
deserta, ao contrário das cidades argentinas. Ficamos no hotel. Comemos comida
que comprei no supermercado próximo. Muitas subidas! O odômetro marcava
5.993km.
Dia 9
Maio – Ter – saímos às 8h10. Pegamos, inicialmente, 80km de estrada muito boa.
Duplicada, pedageada, mas, depois, só estradas ruins: buracos, costelas de
vaca, muitas carretas, que não nos respeitavam. Por três vezes eu tive que ir
para a pista oposta, pois quando eu tentava ultrapassar, na 3ª faixa, as
pouquíssimas que existiam, a carreta com a qual eu estava emparelhado também
resolvia ultrapassar, sem me respeitar. Cheguei a reclamar no pedágio falando
que aquela ali era uma rodovia da morte! Terrível! Não conseguíamos passsar de
80km rodados em uma hora! E em um Estado rico, pois as plantações,
predominantemente de milho, eram a perder de vista. Pensei: “quando chegarmos
em São Paulo, Estado rico, as estradas vão melhorar”. Que nada! Continuaram
terríveis”. Era a SP 425. Escureceu e não conseguimos chegar em Presidente
Prudente. Paramos em Regente Feijó, a cerca de 15km. Ficamos em uma pensão bem
simples, pagando R$ 70,00 por um quarto duplo.
Dia 10
Maio – Qua – Partiu Goiânia! Continuamos pegando estradas ruins, com muitas
carretas e poucas oportunidades de ultrapassagem. Almoçamos ainda em Minas, no
posto Pratão, a 60km de Itumbiara. Nos despedimos ali. Foi cumprido o
programado. Parabéns ao Regimar, que programou tudo, detalhadamente e liderou
com seu GPS, toda a viagem/aventura. E eu, com quase 65 anos, consegui
acompanhá-lo. O Regimar foi para a casa dos pais dele eu segui para Goiânia.
Somente quando passei por Itumbiara que fiquei tranqüilo na estrada. Deus me
livre daquelas estradas do Paraná e de São Paulo!
Algumas
observações: Abastecimento: somente os postos YPF (argentina) e Shell aceitaram
pagamento no cartão de crédito. Os demais, só em dinheiro. Levei um galão de 10
litros que foi bem útil, pois minha moto só pega 17 litros, e nas altitudes o
consumo aumenta. O Regimar não teve problemas de abastecimento com a dele.
Goiânia, 27 de maio de 2017.
Luiz Afonso Gomes de Sousa
Luiz Afonso Gomes de Sousa
Selva!